“No meu país não tinha tanta oportunidade de escolas superiores”

Por Isadora Fagundes e Larissa Morais

As oportunidades de estudo no ensino superior dos  países da África são bem pequenas. Há poucas opções e com custos elevados para a maioria da população. Essa é uma entrevista que mostra um pouco da realidade vivida por essas pessoas. Clemente Mendes, um jovem de 24 anos, originário de Guiné Bissal nos fala um pouco sobre a sua jornada. Ele é um dos beneficiados com a bolsa universitária para estudar na UNILAB (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira), que tem por finalidade fazer uma conexão com vários países da África para gerar e difundir conhecimento, preservar e divulgar os valores artísticos e culturais, uma vez que o Brasil tem uma grande parcela de pessoas afro descendentes.

Jornalivres: Você poderia falar um pouco sobre a sua história de vida?

 Clemente Mendes: Eu iniciei meu estudo primário na região do atual presidente do nosso país. Depois que terminei, fui a uma cidade que era na mesma região e estudei lá até o 9º ano, fui para Guissal, que é a capital, até o meu ensino médio. Concluído o meu ensino médio, fiquei muitos anos sem estudar. Então procurei emprego, achei, e trabalhei durante 2008 até 2012. O trabalho terminou e comecei a procurar outro. Como já não tinha trabalho, comecei a procurar como eu podia fazer para, ao invés de ficar desempregado, e sem estudar; decidi buscar outra oportunidade pra não ficar parado. Então surgiu essa chance na UNILAB, concorri e consegui passar, e isso fez com que eu esteja aqui hoje para estudar.

JL: Como eram as condições de estudo no país que você morava?

CM: No meu país não tinha tanta oportunidade, como escolas superiores, havia só uma universidade privada, os estudantes pagavam a universidade. Então não era fácil para conseguir a vaga, não era fácil para estudar nela. Quase todo mundo que terminava o curso médio, não teve a oportunidade de ingressar logo.

JL: Como você soube da oportunidade de estudar fora?

CM: Na verdade, soube muito tarde dessa oportunidade, porque estava trabalhando no interior. Costumava ir para a capital só uma semana por mês para descansar. Então, foi em 2013 que eu soube que existia uma oportunidade, uma bolsa para vir aqui para o Brasil, para estudar na UNILAB, quando minha irmã participou no processo.

JL: Está gostando da experiência e da instituição?

CM: Eu gostei, a UNILAB na verdade surgiu no momento certo, porque ajudou muitos estudantes, sobretudo do meu país, – eu não sei outros países da África, e acho também a mesma coisa – que não tiveram a oportunidade de entrar numa universidade. Então, a UNILAB surgiu e ajudou muita gente que está hoje estudando, tendo sua formação. Se não fosse a UNILAB, acho que a maioria até hoje não conseguiria entrar numa universidade.

JL: O que você pretende fazer após a sua formação?

CM: Ainda é muito cedo, eu não estou pensando no depois do meu curso, o que eu vou fazer. Mas, a princípio, estou aqui, quero estudar até o mestrado, no mínimo, porque não sei se eu vou continuar aqui. O destino só Deus é quem sabe, mas, se for pra voltar pro meu país, eu não posso voltar somente com a licenciatura, é um grau um pouco baixo. Você vai chegar lá, e vai ter dificuldade para encontrar emprego, vai encontrar pessoas que têm mestrado, então é melhor fazer o mestrado e depois voltar.

JL: Qual foi a maior diferença notada entre o seu país e o Brasil?

CM: Normalmente tem diferença, já que o Brasil está em continente americano e lá é África.  A diferença que eu notei, é em termo de cultura. Chegamos aqui e vemos uma outra realidade, bem diferente da nossa. Além disso, a forma de falar português e  a forma de se vestir.

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